terça-feira, maio 30, 2006

Como a Beethoven decerto apeteceu (passe o imodesto cotejo!) apetecia-me ser mendigo:

O mendigo faminto de poemas
vende rubras corolas e o verde dos salgueiros
para tomar a sua refeição
antes de, cansado, adormecer.
A luz da vela é o seu luar
dorme saciado
bebeu todas as cores da vida livre.

terça-feira, maio 23, 2006

Adormecer à sombra de uma tigela de leite: que tão doces memórias-ilhas da minha inicial dorida infância...

E agora encontro isto em Hermann Hesse (Siddartha):

"Na cabana, Siddhartha deitou-se na sua cama e algum tempo depois, quando Vasudeva se dirigiu a ele para lhe oferecer uma tigela com leite de coco, encontrou-o a dormir".

quinta-feira, maio 18, 2006

O regresso é um lago após a chuva...

E eu a dar-lhe!

Stendhal, "A Cartuxa de Parma":

"A partir do dia que se seguiu à sua primeira noite na prisão, e durante a qual não se impressionou uma única vez, viu-se Fabrício reduzido a conversar apenas com Fox, o cão inglês."

quinta-feira, maio 11, 2006

Saí, agora, de um outro novo mundo: acabo de (re)ouvir a Sinfonia 2 (Ressurreição) de Mahler, sob a direcção de Zubin Meta, e, entre outras vozes, com a impressionante Cotrubas. Arrepiado de sons.

segunda-feira, maio 08, 2006

Regressando ao que ontem aqui deixei sobre o filme "Novo Mundo":
No Jornal de Notícias de hoje, um daqueles críticos que têm o poder de dar estrelas a filmes, escrevia sobre este: "longo e repetitivo".
"repetitivo": Dizer repetitivo do que se apresenta sob vários prismas, é para mim ( e quem sou eu para dizer isto?) não entender que há muitas realidades.
"longo": que haveríamos então de dizer do D. Quixote!
Cheguei, finalmente, à conclusão de que não se tratava do mesmo filme! E não por termos visto objectos diferentes: a diferença estava nos nossos olhos!

domingo, maio 07, 2006

Fui, hoje à tarde, ver o último Terrence Malick, "Novo Mundo", um belíssimo filme, um poema visual, como dizia o Y de 6.ª Feira, do Público... e ainda por cima com aquele incrível Mozart... daquele 2.º Andamento... daquele concerto para piano... Estavam pouquíssimas pessoas, e, por algumas conversas, pareceu-me estarem mais à espera de um Mundo Novo levado à letra!... Enfim!
No fim, de repente, regressou-me um momento quase esquecido dos meus anos 20: Tinha chegado a Angola para uma comissão militar havia uma semana, quando me convidaram para uma festa num musseque dos arrabaldes de Luanda. O que eu ali fui encontrar, foi algo de tão original, tão Mundo Novo, que, ao regressar a casa senti como se me tivesse lavado da sujidade que tinha levado daqui, como se daqui eu tivesse levado só sujidade... Passei o resto da noite a conversar com um camarada, que já ali andava há mais de um ano, e também ele, desde o início, tinha sentido isso, aquelas pessoas não podiam ser inimigas, nunca!, nós ali tinhamos estado em verdade no meio do nosso povo, e nunca nós conseguiríamos combater contrao nosso povo! Foi esta a minha primeira descoberta de África, e repito, quase tinha esquecido essa noite quando ela, no fim do filme, veio ter comigo. Quando regressei, muito mais tarde, sofri saudades de deixar África, mas um dia fiz uma descoberta: a pureza da minha África não tinha ficado lá, tinha vindo dentro de mim, agasalhada naquela noite... e essa descoberta, na altura, fez-me tão bem!
Este pedacinho da minha vida estava, portanto, quase esquecido dentro de mim: o filme foi-me mesmo importante para me ter feito regressar esses "momentos felizes"!!!
Um conselho: não percam!


quarta-feira, maio 03, 2006

Os amigos despedem-se nas margens do regato... e era bom que, às vezes, pudessem regressar. Mas tantas vezes não o podem... Deu-me para a nostalgia, que hei-de fazer?

segunda-feira, maio 01, 2006

Uma dúvida: o 1.º de Maio ainda dá para acreditar?