terça-feira, julho 31, 2007

Morreu, também, Antonioni. Ah, A Noite, o Blow-Up!
Andam a roubar-nos os artistas todos!!!

Morreu Ingmar Bergman, e com ele morreu-me uma parte do cinema...
(Vá lá, resta a obra!)

segunda-feira, julho 23, 2007

As pétalas das rosas
húmidas de arco-íris
tecem em vermelhão o entardecer
sangrento de desejos,
voz melancólica de belezas longínquas:

a saudade não vivida
a dor que não pudemos suportar
a ternura que não quiseram que provássemos.

Em rubor afogueado
o dia aferra ao cais da noite e
descansa nas já secas pétalas das rosas.

sexta-feira, julho 20, 2007

O barco do entardecer flutua em neblina
berço de seda em lençóis de orvalho.

O vento espalha juncos na praia,
cabelos do homem que
entristece a areia quando a pisa.

Agita-se, das ondas, a cinza
quando o homem navega na água de seda
por entre os riachos da aurora.

terça-feira, julho 17, 2007

Os nimbos debruam no deserto
colinas de secura e desencanto.

O homem está cansado
não quer regressar à desordem da cidade
quer apenas a solitária varanda de um campo
onde possa lavar-se nos verdes caules da seara ou
em árvores de floração acerejada.
Uma ínfima parte poderá, então, sorrir-lhe
na miragem da água:
amanhã pode nascer um belo dia.

quinta-feira, julho 12, 2007

(pensando no pintassilgo estrumador do diospireiro de Zef)
O SEMEADOR DE PÁSSAROS



A mão
o ouro do milho
o curso da mão sobre o ouro do milho
abraço singular largo e profundo.

A semente esvoaçou sobre o chão da româzeira.

O homem invocou a chuva
e ela veio
o homem invocou o sol
e ele veio.
Regados de água e luz
brotaram os pássaros do dedo do homem
e, folhas vivas, cobriram o chão.

quarta-feira, julho 11, 2007

Com as mágoas, que a mais ninguém interessam, regresso. E este regresso é um despir-me em egoísmo. Deixá-lo!



A luz pode entrar a qualquer hora e
vestir em tons de ocre a sua fonte,
guardar os segredos nas paredes e
no chão as sombras oblíquas.

Ouve-se no respirar do sol,
por entre as grades das janelas,
a canção tardia dos teus passos
ecoando nas feridas das paredes,
ouvem-se os teus passos sobre o chão antigo,
abandonado às ervas e às folhas secas,
ouve-se o eco das últimas palavras
mastigadas nos sabores da despedida.

O abandono arrasta o fim da tarde
marcado a fogo nas paredes sujas,
calaram-se os teus passos e
as vozes fizeram-se sombras esquecidas.
O silêncio da casa esvazia a noite,
o sangue nostálgico dos filhos que partem
incendeia o coração de mil cuidados e
os espíritos convidam à reunião familiar
numa já esperança sem esperança.

Sobram, num ar de tristeza vaga,
as palavras que ficaram por dizer,
sobra o silêncio e a angústia das palavras.
O tempo despedaça as sombras que enchem a casa e
com o olhar limpa-lhes o pó.