quinta-feira, setembro 25, 2008

Quando a tua ausência
passeava a meu lado sobre a areia
e o mar, banhando-me os joelhos,
molhava apenas a ponta dos teus pés,
o silêncio vestia-se de tardes
e só em desejo o podia eu quebrar
desejo-dor
desejo-ausência sobre a areia.

Agora, breve espectador da noite,
continuo vestido de silêncio e
não sabendo já como quebrá-lo
receberei do mar as novidades
e a mensagem serei eu a escrevê-la.

"Uma coisa havia que reconhecer nele: ao contrário de quase todos os seus amigos, Traveler não deitava as culpas de não ter viajado à vida ou à falta de sorte. Em vez disso, bebia uma genegra de um trago e chamava-se a si mesmo de maldito imbecil.
-É óbvio que sim, que eu sou a melhor das suas viagens - dizia Talita quando a oportunidade surgia - , mas ele é tão parvo que não se dá conta disso."

JULIO CORTÁZAR - "RAYUELA"

quarta-feira, setembro 24, 2008

Hoje, em um lugar cujo nome amanhã revelarei, senti que me escreviam na testa, com cinza: PALHAÇO. Do fundo da memória, esta escritura era-me acompanhada pelo longínquo latinório:"Memento hommo quia pulvis es, et in pulverem reverteris". Consolou-me, ao fim do dia, a também longínqua (de muitos modos) voz do Jô Soares: "Eu não sou palhaço, estão-me fazendo de palhaço!"
Também ao longe, ouvia Jô Soares dizer:
-Nesta terra que eu amo, neste povo que eu piso... Não: Neste povo que eu amo, nesta terra que eu piso, quequeusou, quequeusou, quequeusou?
-Sois Rei, sois Rei, sois Rei!!!!!!!

Benedicamus...

domingo, setembro 21, 2008

Escrito por Emily Brontë, em "O Monte dos Vendavais" (um romance portentoso!):

"-Não será de ti que me vingarei - replicou Heathcliff com menos veemência. - O meu plano não é esse. Os escravos não se revoltam contra o tirano que os oprime: esmagam os que estão por baixo."

Boa noite.

sexta-feira, setembro 19, 2008

Vai fazer um ano que encerrei o meu blog. Reabro-o hoje.
Porquê?
Porque sim!!! ..... e aqui vai um poema sentido:


Na terra dos pessegueiros floridos

vive um homem simples:

gosta do campo e de pêssegos,

planta pessegueiros nos dias de sol,

os pessegueiros florescem antes da aparição das folhas

e depois nascem pêssegos bonitos.

O homem vende os pêssegos que não come e

sofre ao despedir-se deles

como se vendesse uma parte de si,

consola-se, no entanto, com o vinho que compra

com o dinheiro dos pêssegos.

Irá envelhecendo, ora ébrio ora sóbrio,

sentado no chão olhando as ternas flores dos pessegueiros.

Quando morrer será levado numa carruagem de flores

puxada por fogosos cavalos de vinho,

terá saudades do cheiro das flores antes dos pêssegos.

Foi pobre?

Não o foi, soube dominar o tempo desocupado

e, sem flores nem vinho, regressará feliz

à terra onde durante anos

plantou tantos e tantos pessegueiros.